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JOÃO DUARTE

Escultor
JOÃO DUARTE
1985 * 2005

20 Anos a criar medalhas

João Duarte é Licenciado em escultura pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa, local onde leciona como Professor Auxiliar de Escultura. É também Director do Centro de Investigação e de Estudos Volte Face e membro efectivo do FIDEM e do Sculptors Guild Inc. New York.
Editou cerca de cem medalhas, trinta e cinco monumentos públicos, trinta troféus e diversos trabalhos em numismática.

Por vezes controverso nas suas medalhas/objecto encontra-se sempre de olhos voltados para o futuro da medalha portuguesa, nao se cansando nunca de cooperar na sua divulgação quer em Portugal como no estrangeiro.

Apesar do atarefado que anda com a edição da medalha comemorativa dos seus 20 anos ao serviço da medalhistica, da edição do livro sobre o seu percurso e da organização da exposição no Movimento de Arte Contemporanea, João Duarte conseguiu tirar um pouco do seu tempo para conceder uma entrevista ao escultor.com.pt .

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20 Anos da obra de Joao Duarte
Medalha comemorativa dos 20 anos
da obra do escultor João Duarte

escultor.com.pt:
Ao fim de 20 anos qual o balanço que faz da sua carreira?

João Duarte:
O balanço da minha carreira é positivo pois desde 1985, altura que cunhei a primeira medalha, até aos dias de hoje tenho cerca de cem medalhas editadas, dando uma média de cinco medalhas por ano.

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Como escultor, identifica-se mais com a escultura de grandes dimensões ou com a medalha? Porquê?

Como escultor, a minha escala é uma escala média, são peças de dimensão de interior, não quer dizer que quando aparecem peças de arte pública não fique bastante contente, pois infelizmente hoje em dia vão sendo estes trabalhos para o exterior bastante raros. Relativamente às medalhas é uma outra escala. É uma escala mais pequena, da dimensão da nossa mão, o que faz com que o objecto seja íntimo. Portanto para mim, identifico-me com as três, sabendo que qualquer uma delas é sempre um desafio diferente, encontrando nelas diferentes dificuldades, até chegar a um resultado final.

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"O artista identifica-se pela sua liberdade de análise, trata ironicamente e até rejeita as características da medalha tradicional..."

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O mar a seus pés

Do seu vasto trabalho em escultura as "gordas" são uma referência, quer falar um pouco sobre elas?

Elas aconteceram de um modo espontâneo, pretendendo exprimir a poesia dos prazeres simples da vida. Partindo da figura humana, estilizo-a pelo arredondamento das formas, encho-as de ironia originada pela desproporção das cabeças de alfinete encimando corpos bojudos de bilha, de membros atarracados. Elas despertam um sentido táctil atraindo as mãos num percurso de altos e baixos pelas superfícies de homogéneo brilho mate, à descoberta da suavidade das curvas desses corpos invertebrados e cheios. Têm uma delicadeza etérea, flutuando no vazio num equilíbrio surpreendente.

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Dos inúmeros trabalhos que criou, há algum que lhe seja especial?

Todos eles são especiais, uns por isto outros por aquilo. Agora, em todos eles eu coloco desde o começo até ao resultado final, toda a minha entrega, luta e paixão. Como já referi, em todos eles aparecem inúmeras dificuldades até estarem concluídos, que o escultor acaba por se apaixonar, e até muitas vezes sofrer por eles partirem do seu atelier.

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"...em Portugal uma embalagem de medalhas custa mais caro que a própria obra de arte..."

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EURO 2004
Moeda da colecção comemorativa do EURO 2004

Qual a "fonte" de inspiração para o seu trabalho? Tem referências nas Artes Plásticas? 

A "fonte" de inspiração é tudo o que me rodeia, o que me sensibiliza, o mundo que passa por mim a todo o momento, e que me toca ,a fim de esses momentos eu os poder transformar.
Nas artes plásticas há sempre escultores que pela sua obra nos influenciam, quando nós estamos no começo das nossas carreiras, e eu não fujo à regra. Há quem diga que recebi influências do escultor Virgílio Domingues. Penso que ao analisar as duas obras, chegar-se-á à conclusão de que, se alguma semelhança houver, será apenas a nível dos grandes volumes. Outro nome poderá surgir na linha de uma possível influência - o do escultor Jorge Vieira, cuja ironia subtil muito aprecio.

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"Falta da parte dos artistas mais poder de interligação entre eles..."

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25 Anos do Instituto Politécnico de Setúbal

As suas medalhas vão muitas vezes além dos conceitos clássicos, como por exemplo o protagonismo do rebordo no conceito da medalha. A intenção é quebrar regras existentes ou de criar novas? Ainda há limites para a medalha?

Hoje em dia a medalha já começa a ser um objecto, passando a existir num espaço pessoal, autónomo e independente. O artista identifica-se pela sua liberdade de análise, trata ironicamente e até rejeita as características da medalha tradicional, transformando essas características com o critério pessoal e projectando-as num grande leque de materiais e formas.

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Acha que a medalha corre o risco de cair em desuso ou, por outro lado, ainda há um mercado interessado?

Hoje em dia a medalha portuguesa está a tomar uma posição de solidez e afirmação tanto a nível nacional como internacional. Apenas com o ensino da medalha na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, o único local em Portugal onde se prepara os futuros medalhistas, é lá que existe uma enorme dinâmica entre a nova geração que faz com que as gerações mais velhas se movimentem, para em conjunto divulgarem e conceberem novos projectos, realizando conferências, exposições, participando em congressos a nível mundial, orientando ateliers da especialidade, etc. Depois de tudo isto, a medalha em Portugal está firme, e hoje em dia já é considerada como uma obra de arte.

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"acredito que a nossa medalha possa ser uma das melhores no mundo"

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São vários os concursos e exposições de medalhística organizados em Portugal, no entanto estes passam ao lado da maioria da imprensa, na sua opinião a que se deve este fenómeno? 

Há várias explicações. A primeira é dos próprios artistas e identidades organizadores de exposições que fornecem toda a documentação, muitas vezes com o evento já a realizar-se. A segunda é que a medalhística, ainda hoje não é considerada uma arte mas sim está ligada ao coleccionismo. A terceira é que em Portugal uma embalagem de medalhas custa mais caro que a própria obra de arte. Por outro lado na imprensa não existem jornalistas especializados sobre medalhas. Por tudo isto e mais algumas outras razões a imprensa não dá ainda a importância que devia dar à medalha.

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Medalha comemorativa do X Aniversário da Galeria MAC

O que falta à medalha portuguesa para ter mais projecção tanto nacional como internacional?

Eu penso que a medalha portuguesa tem neste momento já muita projecção internacional, através dos vários prémios que os artistas nacionais têm ganho nos Congressos da FIDEM (Federação Internacional de Medalha) em vários países do mundo. O grande problema é em Portugal!
Falta da parte dos artistas mais poder de interligação entre eles e haver alguns críticos ou historiadores que se interessassem pela medalha.

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Em 1997 criou, juntamente com o escultor Rui Vasquez e alguns alunos de medalhística, o Volte Face. Qual tem sido o papel deste projecto na medalhística portuguesa?

O papel do Centro de Investigação e de Estudos Volte Face - Medalha Contemporânea tem sido hoje em dia divulgar a medalha e o ensino da mesma, tanto a nível nacional como a nível internacional, incentivando uma dinâmica à produção.
Tem organizado exposições de medalhística com alunos de Faculdades dos Estados Unidos da América, Rússia Alemanha, Japão, Brasil, Finlândia. Tem realizado conferências, exposições temáticas, acções de formação, efectuando workshops com as escolas primárias, preparatórias e secundárias, através do país. Tem realizado com várias câmaras bienais nacionais e internacionais de medalha contemporânea, tendo por último investido no campo da investigação tendo publicado livros sobre a obra de medalha de artistas portugueses.

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"...a medalha em Portugal está firme, e hoje em dia já é considerada como uma obra de arte."

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Centenário do Elevador de Santa Justa

Como professor na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, lida diariamente com alunos de medalhística, como vê o futuro da medalha portuguesa?

Graças ao diálogo constante entre artistas e entidades com responsabilidades no campo da medalha, abrindo-se portas a novos horizontes, desenvolvendo a qualidade necessária para que o futuro da medalha portuguesa seja uma realidade, acredito que a nossa medalha possa ser uma das melhores no mundo.

Por último, acredito que os diversos públicos vejam a medalha cada vez mais como uma obra de arte.

Nov. 2005
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