MEDALHAS-BRINQUEDO
DE JOÃO DUARTE
Não é exclusivamente para gozo próprio
que João Duarte faz medalhas, tanto mais que a maioria obedece a quesitos
de encomenda pública, comemorando acontecimentos ou evocando efemérides.
No entanto, tenho a certeza que as medalhas que faz lhe dão imenso
gozo. Não sendo subprodutos da sua escultura de maior formato e tendo
efectivamente vida própria, em todas elas impera uma linguagem conceptual
que tem subjacente uma noção de jogo ou brinquedo. Em comum
com as suas "gordas" escultóricas, nas medalhas que cria
reina o divertimento generoso que deseja partilhar com a humanidade.
Partilha e generosidade são duas qualidades que o animam.
Vejo-o sempre a correr, normalmente para tratar de causa alheia, às
vezes para apagar fogos que sempre acontecem nas pequenas e grandes famílias.Trabalhador
incansável,que só no começo do milénio conheci:em
Weimar,no XXVII Congresso da FIDEM (Federação Internacional
da Medalha), rodeado de alunos e parecendo um entre eles. Estava eu então
prestes a assumir funções de Delegada portuguesa da FIDEM,
ainda desconhecedora dos meandros medalhísticos, e João Duarte
tornou-se desde logo um aliado,já que tínhamos interesses comuns
a defender:a medalha portuguesa contemporânea e a sua divulgação.
Desde essa data temos colaborado em diversas iniciativas, sendo para mim um
privilégio poder usufruir da sua permanente disponibilidade e dedicação "à camisola':
Nas suas medalhas encontro o reflexo da criança amável
que tem dentro de si e que teima em conservar. Transparente, directa, sem
sofisticações de retórica. Quase ingénua na sua
capacidade de se maravilhar com o mundo. Raramente estáticas, as suas
medalhas,das mais antigas às mais modernas, rolam e movimentam-se,exibindo
e ocultando, em jogos de escondidas e mecanismos diversos. Formas
primárias, como o quadrado, o círculo ou o triângulo
conjugam-se em volumes compósitos, que se sobrepõem e invadem
(2000 um estado de espírito), articulando-se em puzzle abstracto (Jerónimo
Martins, 1992) ou em sugestões do real (Mãe de Agua ou Medalha
comemorativa do 80 Festival de Bandas Amadoras). Outras vezes é a
própria realidade concreta que invade a abstracção (1300
aniversário das Comemorações Nacionais da Polícia
de Segurança Pública, 1997 ou a premiada Medalha comemorativa
do centenário do Elevador de Santa Justa).
Em muitas medalhas-brinquedo de João Duarte conjugam-se
materiais de natureza diferente, nomeadamente o metal com o acrílico,
de vivo colorido, vermelho, amarelo, azul, verde, por vezes monocromático
(24 Anos da Associação 25 de Abril, 1998) outras organizado
em completo arco-íris (25 anos da Associação de Bem
Estar Infantil de Vila Franca de Xira, 2000), contribuindo para engrandecer
a sua capacidade lúdica.
A presença carismática do escultor João
Duarte na arte da medalha contemporânea portuguesa, com as qualidades
de dedicação que lhe são conhecidas, a sua praxis diária
tanto na escola (Professor da cadeira de Medalhística na Faculdade
de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e membro fundador do grupo Anverso-Reverso
e do Centro de Estudos Volte/Face - Medalha Contemporânea), como na
oficina, muito têm contribuído para o interesse de gerações
de jovens pela medalhística e, consequentemente, para a pujança
atingida por esta arte, em Portugal, nos últimos anos.
Lisboa, Junho de 2004
Maria Rosa Figueiredo
Delegada FIDEM
- Portugal |